A Revista Íntegra, após cinco anos de publicações, chega ao fim.
Convidamos você a conferir esta última edição. Saiba mais...

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Rio que mora no mar - Dona Maria

Há nesta nova tribo mulheres de quadris enormes, largos, imensos, os seios acompanham e a fartura de carnes vaza pelos poucos panos. Há pouca maquiagem e muita fantasia. Há poucos olhos puxados e muita pele escura. Há pouca roupa cobrindo os viventes. Há sempre alguém por perto, muito perto, esbarrando, se esfregando, proximidade impensável em terras de Nossa Senhora da Luz. Há sempre um porra, caralho, cacete emendando os parágrafos. Mas nunca vi ninguém costurando frases com buceta, xoxota, reguinho. Engraçado, não acha? Porque será que só as “coisas dos homens” prestam para se fazer de vírgula, exclamação e ponto final? Há ônibus brotando de todos os lados, aos meus olhos ainda estrangeiros, sem rumo, sem parada, sem nome, sem ordem, sem pista, tenho sempre a impressão que assim só podem conduzir a destino incerto. Há buzinas e xingamentos em desarmonia. Há desalinho. Há destempero. Há muita gente nanica, sim, na rua, nas calçadas, nos guichês, nas filas, nas portas, nos ônibus, em todos os cantos, os de pouca estatura me fazem só mais uma. Há gente feia brotando em cada fresta, cada esquina, cada balcão, cada semáforo, cada meio-fio, cada curva insinuante que dá para o mar.

E se nada acontecer...

Joy Division

A existência... bem... o que importa? Eu existo da melhor forma possível.
O passado, agora, faz parte do futuro,
e o presente está fora de controle!
Na década de 80, enquanto a maioria dos adolescentes se identificavam com o rock nacional, eu, minha irmã e nosso círculo de amigos “estranhos”, ouvíamos entre outros, Joy Division; banda inglesa batizada com o nome de um bordel, frequentado por soldados alemães, durante a segunda guerra.
“Control” (Controle) é um filme melancólico, belíssimo e triste, que conta a história de Ian Curtis, líder da banda mas antes de tudo, um grande poeta. Indico este filme não para todos, somente para os que admiram a obra do Joy ou para aqueles que se identificam com a cultura do pós-punk do início da década de 80. “Control – 2007- direção de Anton Corbijn”. (Thaís Aguiar)

Eneida

"Tomem cuidado, ou vocês vão perder os "bagos" e vão colocar duas cebolas no lugar!" Era Eneida, furiosa, orientando os filhos adolescentes.
O marido era um calhorda que transava com outras mulheres, sem o mínimo de precaução. Os "bagos" enormes, inchados, faziam uma protuberância nas calças, e ela, que de "fadinha dos bosques" não tinha nada, arquitetou um plano: há pouco tempo chegados de outra cidade, alugaram uma casa velha na rua Dr. Faivre (perto do Hospital de Clínicas), os dormitórios no andar superior, banheiro ao lado, dois janelões descortinavam a rua e, lá embaixo, muitas roseiras. Eneida trancou um dos janelões e a porta de saída do quarto.
O marido saiu do banho, pelado, atirou a toalha molhada em cima da cama. Foi neste momento que ela com toda raiva acertou-lhe com uma tranca e o empurrou janela fora. E ele caiu pelado em cima das roseiras.
Não. Ele não morreu. Tampouco aprendeu a lição.
Margarita Wasserman - Curitiba, Brasil

17 de nov de 2010

sexta-feira, 9 de março de 2012

Revista Íntegra em curta-metragem

Trabalhando numa das edições da Revista Íntegra me deparei com um texto da Luci que me chamou a atenção. Falava da primeira fase da imigração, quando tudo é melhor no país de origem, quando resistimos a nos incluir neste novo mundo. O texto era repleto de imagens, e aparentemente trazia um tema superficial como as manicures europeias, mas lendo com atenção era possível perceber toda a complexidade que se esconde por trás dos detalhes da vida cotidiana e tivemos a ideia de filmar e transformar num curta. Várias adaptações foram feitas, roteiro, produção e pós-produção e finalmente fizemos o lançamento no segundo semestre de 2011, na Suíça e em Milão. E a cada mostra/bate-papo enriquecemos nossa observação de imigrantes e constatamos que o simples é sempre Mais. Com o fechamento da Revista decidimos inserir o curta na internet e lançá-lo agora, em primeira mão, para os leitores da Revista Íntegra.

Thais Aguiar - Zurique, Suíça




"O Brasil em Minhas Mãos"
Texto: Luci Macedo
Atrizes: Luci Macedo, Patricia Flores e Magda Hammer
Direção e edição: Thais Aguiar




Concluímos por aqui o projeto Íntegra...


O fim da Integra revela o que já vínhamos notando há muito tempo, as meninas da Íntegra se integraram! Ou se desintegraram e voltaram, ou se desintegraram e ficaram, ou partiram para outras bandas para se integrarem de novo.

Na realidade os processos de integração ou mudança aconteceram antes e durante estes cinco anos, se dermos uma olhada no arquivo da Integra podemos observar uma sutil transição de temas. Na sua origem, a missão de prover informações úteis que contribuíssem com a integração das brasileiras na Suíça fica clara nos textos publicados em Novembro de 2007, selecionados do fanzine impresso. A partir de 2008 se expande o espectro de temas e a geografia. Colaboradoras brasileiras vivendo em vários países estrangeiros, e também no Brasil, ainda refletem sobre os seus processos de integração, mas também escrevem sobre cinema, literatura, música, artes plásticas, cultura, política, temas femininos e da atualidade, como podemos ver por exemplo nas edições de Junho, Setembro e Dezembro de 2008. Em 2009, além destes temas, que foram contínuos durante toda a existência do blog, dicas e experiências de viagens aparecem em alguns textos, e passamos também a publicar, além de nossos textos originais, material de outras fontes. Artigos de revistas, jornais, de outros blogs, que achávamos interessantes, pertinentes, e que se enquadravam dentro do universo Íntegra fizeram também parte da revista, como pode ser visto nas edições de Junho, Agosto, e Outubro de 2009. Tivemos algumas edições especiais de Natal (em 2008 e 2010), em celebração ao Dia Internacional da Mulher e sobre criatividade em 2011 até chegarmos a esta edição especial de despedida em 2012.

Fechando ciclos


Recebo um email da Cris, pedindo texto para a Íntegra. Legal! 
Última edição? O-ho. 
Continuo a ler a mensagem e congelo nesta frase: “Todos os processos e projetos na vida fecham um ciclo; início, meio e fim são etapas que surgem naturalmente em nossas atividades e ações...”
Não consigo escrever nada, um vazio se abre à minha frente. Deleto essa ideia do meu dia ... da minha semana ... da outra também... Mas ela está lá, lentamente martelando: fechar o ciclo, fechar o ciclo, fechar o ciclo... 
Peço um prazo, adio o inevitável. Há tempos não escrevo, confesso, mas o blog estava lá, esperando, solidário. A companhia-distante de companheiras queridas, unidas num ideal, aguardava. A partir de agora, não mais. 
Penso que penso, descubro: meu momento de vida é de doloroso fechamento de ciclos: ciclo familiar mudando com a saída de filhos crescidos de casa; “partida” de parentes idosos deixando apenas saudades. Ciclo de fertilidade que se encerra, alterando a saúde física e emocional. Ciclo de amigos que se mudam, indo continuar suas histórias ao longe, outros para nunca mais... Estou cansada de me despedir de pessoas que amo e com quem compartilhei muito de minha história fora da terra natal. 
Percebo: tenho uma relação desafeta com a palavra “último”: último texto, último dia, último ato, último instante, último suspiro.

Meu ano meio porta


Alderley Edge, Inglaterra. Passei um ano estudando móveis, cortinas, papel de parede, etc e tal. Mas não estou me sentindo uma porta.
Li muita coisa interessante sobre arquitetura, história e cultura inglesa. O curso também rendeu uma análise psicológica sobre a Inglaterra, que sempre se refere a Europa como “o continente” mas nunca se coloca dentro dele. Curioso, não?
O Reino Unido passa por uma crise avassaladora. Às vezes me sinto no Brasil dos anos 80. Ninguém sabe direito pra que lado o barco vai virar, mas sabemos que ele vai virar. Em tempos de crise, a nostalgia surge como um bote salva-vidas. As pessoas estão lendo Charles Dickens, a dama de ferro é celebrada no cinema e Twiggy é relembrada no mundo da moda.
Foi nesse ânimo que me aproximei à arquitetura e ao design de interiores típicos dessa região da Inglaterra. Aqui, as pessoas preferem renovar sua casa a colocá-la abaixo. Mais nostalgia... Se precisam de mais espaço, constroem um puxadinho.

Tudo tem seu fim

Tudo tem seu fim. Não há como fugir desse fato. Até a Integra tem seu fim.

Ao ler o email que anunciava o fim desse trabalho, no qual tanto amei fazer parte, fui invadida por uma imensa tristeza. As meninas têm toda a razão. Não só elas estão ocupadas com as suas vidas, mas também a rotina das colaboradoras, mudou. Isso levou à decisão de por um ponto final no trabalho que vínhamos desenvolvendo, de levar a nossa voz e a experiência de viver fora do nosso país aos leitores mundiais, conhecidos ou não. De discutir temas banais—como a falta que as manicures brasileiras nos fazem, até assuntos polêmicos—política, direitos das mulheres, etc. Tudo tem seu fim.
Volta e meia algum amigo me perguntava: "E a Íntegra?", "Você ainda faz parte?", "Nunca mais li nada.", "Adoro os textos". Isso enchia meu peito de orgulho. Percebia que alguém do outro lado me ouvia, sentia o mesmo, se incomodava com algo. Havia alguma reação.
Que sensação boa poder compartilhar com vocês algo que eu me dava conta, que me emocionava ou também me abismava.

Azul íntegra

...saudades de ter saudades do Brasil, quando eu era uma imigrante em estágio inicial
a primeira infância aprendendo a compreender, a falar, a comer em outra língua.
Quando eu comprava a minha passagem de ida e volta com antecedência de 6 meses e validade de 1 ano,
assim poderia, no meio das férias, decidir se voltava ou não
Saudades de comprar uma lembrancinha para cada um da família e amigos mais chegados
Saudades de ter tantos amigos chegados...
Saudades do país do futuro, de pensar no meu futuro naquele país,
Saudades de não gostar daqui,
de brigar com todo mundo daqui
De ser fiel a um pedaço (grande) de terra com nome pequeno de país
Agora depois de tantas provas e tantos estágios,
me vi.

Let's go girls but not so far away...



Tudo nessa vida tem um começo, meio e fim. Embora muitas coisas comecem às vezes do meio e outras parecem não ter fim.

Mas tudo um dia acaba. Outro dia pode até recomeçar ou apenas terminar.

Pensando sobre o que escrever para esta última edição da Íntegra, pensei que existem tantas coisas a serem ditas, poderia falar sobre a invasão da tecnologia e não sobre o que ela traz de bom, como a mídia e as pessoas abordam o tempo todo, mas sim da falta que as coisas simples fazem. Coisinhas feitas a mão, discos de vinil onde a sequência lado A e lado B tinha todo um sentido, telefonar, falar e encontrar as pessoas e não só teclar. Poderia ainda falar de amor ou da falta de, das relações líquidas, do vazio das pessoas que tentam camuflar ou preencher com inúmeras atividades em suas vidas. Poderia falar sobre os prazeres e desprazeres do trabalho, citando o livro de Alain de Boton Pleasures and Sorrows of Work. Falando ainda de Boton, outro livro dele interessante é o Arquitetura da Felicidade, que fala sobre a influência e a importância do lugar onde vivemos e que tipo de bem ou mal estar isso pode proporcionar.

Margaritas

Em Curitiba, numa de minhas idas ao Brasil, marquei com uma amiga no Café Express em frente à praça Santos Andrade. Café bem curitibano, proprietários japas com suas empadas e pães de queijo e recheado de personagens bem “sui-generis”.

Quando entrei uma bela surpresa: Margarita Wasserman, nossa colaboradora mais velha e agora com seus 81 anos, estava lá, sentada à mesa com seus amigos: típicos jornalistas aposentados e intelectuais barbudos, grisalhos e cabeludos e todos com seus óculos com moldura setentista.
A surpresa era que minha amiga Margarita tinha se tornado, voluntariamente, nossa garota propaganda. Havia impresso várias páginas da Íntegra e estava lá mostrando para esses amigos a qualidade do “blog das meninas”. Todos olhavam atentamente e comentavam quando entrei inesperadamente, recém chegada das bandas helvéticas. Tudo uma grande coincidência. Mas confesso que me encheu a alma perceber que o carinho e qualidade com que fazíamos este projeto tinha alcances também fora do mundo virtual. 

Engraçado, no início ficávamos surpreendidas com o tráfego dos visitantes, ver no mapa mundi, uma ferramenta inserida no blog, de que lugares do mundo pessoas acessavam a revista. Eu entrava diariamente para ver e vibrar com mais uma estrelinha na Rússia, por exemplo. Mas passada essa novidade, ficamos mais sedentas de situações reais, e tenho certeza que o que nos moveu, como administradoras, a seguir com a revista tanto tempo, foi realmente as trocas “tète-a-tète” que tínhamos entre as meninas, e posteriormente com a Cris, companheira íntegra. Sem dúvida ninguém aproveitou e absorveu tanto como nós duas que trazíamos o cotidiano do virtual para um encontro sempre divertido e enriquecedor.

“Só vi pedras” – mas que pedras!

Antes de partir para a Turquia, numa viagem de quinze dias com um grupo de brasileiros e portugueses por este país que tem atraído cada dia mais turistas, escuto esta frase:

- Estive na Turquia, mas só vi pedras!
Parto sem grandes expectativas, apenas a vontade de conhecer um novo lugar, direção leste na minha rosa-dos-ventos, “por mares nunca dantes navegados”. Grupo grande, divertido e ruidoso, há muitos anos não viajo assim, em excursão. Deixo preconceitos do lado de fora do ônibus e vamos lá! A guia turca fala um português formidável e é daquelas com talento cênico, mais do que conta, ela transpira a história.
Istambul caótica, trânsito que faz lembrar filmes indianos, ou passeios à rua 25 de março, abre-se à minha frente. Vendedores em bazares milenares - à caça de brasileiros (somos milhares por aqui!)  que eles perceberam, compram sem parar - não dão sossego para turistas desavisados. “Você é brasileira? de São Paulo? falo português!”
Fico me lembrando das aulas de história do Brasil, daquela parte explicando o porquê da necessidade de partir pelo oceano a caminho das Índias, quando os otomanos fecharam a passagem por terra e pelo Bósforo aos mercadores que iam rumo ao Oriente, em busca de especiarias, tapetes, tecidos e adornos. Encontra-se, ainda hoje, no mesmo Bazar das Especiarias. E mais um pouco. Gosto de pensar que nossa História começou aqui.

Home sweet home


Hoje, ao rever o curta O Brasil em minhas mãos de Thaís Aguiar, eu me lembrei dos versos de um poema do século XIX, que qualquer brasileiro(a) sabe de cor:
"Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá
As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá"
Não quero de maneira alguma banalizar os versos de Gonçalves Dias e sua magnífica Canção do Exílio, mas o “eco” que me veio em mente no final do filme foi: “as manicures que aqui trabalham, não trabalham como lá”. E isso não banaliza o poema, porque Dias o escreveu no período em que estava estudando na Europa, ou seja, sentindo-se como milhões de outros brasileiros que se aventuram em terras distantes. Acredito que em grande parte das pessoas, o longo período longe da terra natal gera mais cedo ou mais tarde uma certa nostalgia que faz com que a pessoa exalte tudo o que remeta a sua casa, sua origem e sua identidade patriótica.
Minha identificação com o filme foi bem clara: de repente todos os “bifes” e fofocas, que tanto me incomodavam nos salões de beleza brasileiros, desaparecem diante da constatação de que na Europa eles não existem mais. Encarar uma outra realidade cultural provoca muitas vezes uma defesa instintiva, que logo grita: o meu mundo é melhor!
Esse conflito e essa reação não são somente normais como essenciais para estabelecer e fortalecer a identidade do ser humano que se desloca para o meio de outras pessoas e crenças, de outro cotidiano e cultura.

A rainha do jazz cantando o nosso país


Desde um tempo meu desafio é achar dicas de jazz que meu pai, o monstro do "wikijazz", desconheça. Quase sempre ele me ganha. E foi na minha viagem ao Brasil de fevereiro que descobri um CD divino de Sarah Vaughan, cantando sucessos da nossa terra: "I love Brazil". Gravado em 1977 no Rio, com grandes nomes da cena musical brasileira, o disco acabou sendo nominado para o Grammy.

Aconselho todos vocês a ouvirem do começo ao fim e se deliciarem com a singeleza da voz de Sarah, com a poesia de Caymmi, a elegância de Milton, etc.

Simplesmente céu na terra.

Para ouvir o CD na Integra acesse: http://grooveshark.com/#!/album/I+Love+Brazil/6169563

Cecilia Zugaib - Zurique, Suíça

A Separação

Minha principal função na Íntegra, além da edição e polida final dos textos, foi  sempre escrever sobre livros e filmes. Nesta edição final queria manter esta tradição. Uma feliz coincidência me levou a assistir recentemente o fenomenal "A Separação" (Jodaeiye Nader az Simin, título original em Iraniano). Feliz coincidência não só porque o filme também aborda o tema "o fim", mas principalmente porque a última vez que escreverei sobre um filme na Íntegra será sobre um dos grandes, um dos melhores, se não o melhor que já comentei nestas páginas.

O enredo de "A Separação" em princípio soa banal, um casal comum que enfrenta a fatídica decisão de se separar, e as consequências desta decisão para o resto da família, principalmente para a filha adolescente do casal e o pai do marido, já muito velho e doente.

E o que faz este filme ser tão extraordinário é exatamente isto, ele avassala o expectador sem nenhuma história mirabolante, sem efeitos especiais, de som, maquiagem, tecnologia, sem violência, sem nenhuma gota de sangue. A história é contada e interpretada de forma tão profunda, tão tensa, tão real. Os diálogos e performances são tão tocantes e verdadeiros, que em alguns momentos duvidamos se  esta é realmente uma história fictícia.

Tantos temas complexos são abordados,  amor e orgulho, honra, lealdade, dignidade, honestidade, a força da religião e da fragilidade humana, o  sistema de justiça e valores iranianos.

Saturação social


O termo "Saturação Social", lançado pelo New York Times no mês de janeiro, nos revela que é possível que este euforismo acerca das redes sociais seja amenizado no decorrer deste ano.

"As visitas cresceram 10% de outubro de 2010 ao mesmo mês de 2011, segundo a comScore, contra 56% de aumento no ano anterior."

Tenho cada vez mais amigos que querem "sair" do Facebook (FB). Tem até alguns que marcaram uma data para deixar de existir socialmente. E o deixar de existir é visto quase como um suicídio. É como que se ele saísse do FB ele estaria fora, seria um excluído, não teria mais grupo de pertença, nem comunidade e nem identidade. E no desespero por não se perder, já que agora ele acredita que se encontrou, ele permanece mais e mais horas em frente ao computador devorando tudo o que lhes é lançado. Mas e se ele sair? E suas preferências musicais, ele dividirá com quem? E a exposição dos seus gostos, sim porque agora todos sabem que ele é adepto a luta dos direitos da criança e até foi ativo quando houve uma manifestação. Agora as pessoas, que não sabiam quem ele era o conhecem profundamente, sabem que ele gosta de música folk, que viaja muito para Paris e que usa roupas preferencialmente pretas. Além disso ele sempre posta coisas interessantíssimas, no olhar dele.

Monsieur Lazhar no cinema

Título original: Monsieur Lazhar
Origem: Canadá
Diretor: Philippe Falardeau
Roteiro: Philippe Falardeau
Com: Mohamed Fellag, Sophie Nélisse, Émilien Néron

Baseado na peça Bachir Lazhar de Evelyne de la Chénelière, Monsieur Lazhar é um filme sensível, profundo, tocante, bonito e bom de se assistir!

A trama se passa em Québec, no Canadá, e conta a história de um imigrante argelino de meia idade – Sr. Lazhar (Mohamed Saïd Fellag) – que se apresenta para substituir uma jovem professora de Ensino Fundamental que decide dar fim a sua vida na sala de aula da escola.

O Sr. Lazhar entra, assim, abruptamente na vida deste grupo de crianças (de 11, 12 anos), em um período extremamente delicado para elas, em que a maioria, ao se deparar pela primeira vez com a morte, tenta encontrar repostas, explicações e culpados para o acontecido. Cada um a sua maneira, naturalmente! Uns sofrendo mais, outros menos, mas todos de certa maneira “tocados” pelo sentimento de perda.

Quem se importa

"Se eu pudesse eu faria algo... eu acabaria com a injustiça social" 
Quantas vezes pensamos nisso e o quanto seria bom fazer algo para mudar a desigualdade no mundo? Algumas pessoas pensaram e realizaram soluções para esse problema social e mudaram o rumo das coisas, o filme documentário "Quem se importa", dirigido por Mara Mourão, apresenta entrevistas com empreendedores sociais que decidiram mudar a realidade por meio de suas ideias criativas e que tiveram "grande" impacto social. 
O próprio filme assume: “Os filmes não mudam o mundo, mas as pessoas que os assistem". Vale a pena assistí-lo como uma boa forma de inspiração! Estreia em abril! 

 Luci Macedo, Milão - Itália



Trailer QUEM SE IMPORTA from Mamo Filmes on Vimeo.

Reencontro com o mito da divindade feminina


Confesso que nunca me voltei para estudar mais profundamente o arquétipo feminino. Bastava-me a ideia junguiana pincelada na faculdade: “mulher como continente, homem como conteúdo”. Sendo paulistana, venho de uma época e local em que a mulher já estava na universidade, já trabalhava, já tinha seu lugar, vez e voz, mesmo que pequeno, na sociedade; a luta se fazia necessária para ampliar este espaço e pela igualdade salarial. Então, fui mais pragmática na questão do feminino: arregaçar as mangas e trabalhar, estudar, criar os filhos, organizar e arrumar o lar e dedicar-me a centros sócio-culturais – e dividindo tudo com o companheiro! Meu questionamento na verdade sempre foi mais político-social e cultural.
Ao chegar à Suíça, há vinte anos, uma das constatações era de que aqui a mulher ainda não tinha, ou não se importava em ter este status. Poucas trabalhavam e, além disso, lembremos dos direitos políticos relativamente novos - vide o tardio e básico direito ao voto!
Passado o choque inicial, foi pôr a mão na massa e criar/cavar meus espaços no mundo do trabalho. Os questionamentos da minha realidade continuaram sendo sempre de ordem prática.

Ser brasileira no mundo - uma reflexão pessoal


Durante muito tempo ouvi que o valor ao próprio país só se daria quando se saísse dele. E mesmo assim eu achava que não. Eu me sentia tão orgulhosa de fazer parte daquele mundo, de ter nascido alí, que não teria mais espaço que pudesse caber mais valor. Ledo engano! Aquele Brasil que eu conhecia, tão pequenino, uniforme e comportado, reflectido na minha pequena cidade  (Curitiba, com seus 2.500.000/hab.) limpa e contida, de repente já não existia mais. Não havia mais espaço para somente esta leitura, desta temperatura e temperamento mais frios. A minha noção de Brasil se ampliou juntamente com a distância que tomei dele. E foi fora deste país que eu o conheci e não nas viagenzinhas de férias em que se supõe conhecer um lugar.
Saber-se e sentir-se brasileira na sua totalidade. Para isso foi necessário ouvir o disco dos dois lados, e ouvir mais e mais discos, se propondo a ouvir principalmente o lado B. E foi aí que me descobri BRASILEIRA.
Conhecendo dezenas de tipos que me proporcionaram um enfrentamento comigo mesma. Um auto-reconhecimento a partir das qualidades e defeitos dos outros, meus conterrâneos. Eu sabia que por trás daqueles trejeitos, aparência ou personalidade que eu tanto criticava  estava refletido um pedaço de mim e reconhecer isto foi um processo bastante doloroso, mas enriquecedor. 
No início creio que todos temos a tendência da negação, de deixar claro para si que você não se parece em nada com aqueles com quem você não possui qualquer identificação imediata. Mas depois, aos poucos, e com uma transformação pessoal, não é mais tão complicado “estar brasileira” e se sentir representada por tipos que você não aceitava inicialmente.
E é como assumir-se na diversidade.

Criolo em "Não existe amor em SP"

Uma das grandes revelações musicais de 2011 foi, para mim, o músico Criolo. Não só pela qualidade que conquistou ao longo do seu percurso poético-musical, mas muito pelo discurso que não se restringe ás letras das canções. Criolo consegue, como poucos, fazer da sua teoria uma prática diária. Atitudes e ações que impulsionam sua arte e revelam para o mundo a força de uma poesia, esta que sai da escrita e molda a sua forma de mostrar que tudo pode ser melhor com uma arte que comunica além do entretenimento estéril e comercial!

Thais Aguiar - Zurique, Suíça

quinta-feira, 8 de março de 2012

Xenofobia


De acordo com o dicionário, xenofobia consiste na aversão ao estrangeiro: xeno – estranho; fobia - aversão, medo.

O século XX foi palco de inúmeros e profundos acontecimentos como: duas Guerras Mundiais, Guerra Fria, várias guerras civis, além do advento da globalização, revolução técnico-científica e a formação de blocos econômicos como União Europeia e o Mercosul.
Todos esses acontecimentos contribuíram e ainda contribuem para o aumento de fluxos migratórios dentro dos países e além de suas fronteiras. Em consequência desses fluxos, manifestações xenofóbicas têm se difundido cada vez mais entre pessoas e alguns países têm criado leis para inibir ou limitar a presença de estranhos em seu território.
Como sempre fui ligada aos Direitos Humanos e acredito que todos devemos respeitar e ser respeitados, sou contra toda e qualquer forma de preconceito, e nesse artigo gostaria de compartilhar um pouco da minha experiência evidenciando ainda mais o porque sou contra a esse tipo de atitude.